IA e Big Data são essenciais nas pesquisas de novos fármacos

Medicamentos e vacinas que utilizam a genética rompem as fronteiras dos fármacos tradicionais e possibilitam tratamentos mais seguros que podem vencer a resi...

IA e Big Data são essenciais nas pesquisas de novos fármacos
IA e Big Data são essenciais nas pesquisas de novos fármacos (Foto: Reprodução)

Medicamentos e vacinas que utilizam a genética rompem as fronteiras dos fármacos tradicionais e possibilitam tratamentos mais seguros que podem vencer a resistência de bactérias, vírus e fungos (Crédito: DICom Unaerp) A biotecnologia e o desenvolvimento de biofármacos, assim como terapias baseadas em RNA, vacinas e a utilização da Inteligência Artificial, são as atuais fronteiras no setor farmacêutico na busca por medicamentos mais eficazes e seguros. No entanto, é preciso vencer alguns obstáculos como a resistência microbiana e a disseminação de notícias falsas. De acordo com a professora Marise Bastos Stevanato, coordenadora do curso de Farmácia da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), as tendências na pesquisa farmacêutica se concentram na seleção de alvos terapêuticos e na estratificação de pacientes a partir do perfil genético. “Ao selecionar alvos terapêuticos, elevamos as chances de melhor resposta com menor efeito adverso”, explica a professora Marise Bastos Stevanato. NOVOS CAMINHOS E DESCOBERTAS A pesquisa em microbiologia é essencial para prevenir e controlar doenças infecciosas, destaca a professora. Entre as prioridades estão o desenvolvimento de ferramentas de diagnóstico rápido para rastrear surtos e fontes de contaminação, a integração de dados epidemiológicos e a criação de vacinas e adjuvantes capazes de reduzir gravidade e transmissão. A coordenadora explica que também é preciso pesquisar processos de descontaminação, esterilização e higienização, sobretudo em ambientes hospitalares. O farmacêutico Miguel Augusto de Moraes sempre gostou de ciência e diz ter encontrado no curso da Unaerp laboratórios, projetos e professores pesquisadores para iniciar na pesquisa científica - Crédito: TV Unaerp Segundo Marise, os avanços da microbiologia impactam diretamente o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos. Pesquisas podem identificar alvos terapêuticos, interferir em biofilmes, descobrir vias metabólicas e fatores de virulência de microrganismos, além de explorar nanotecnologia para sistemas de liberação controlada. Nesse campo, a Inteligência Artificial e o Big Data vêm se mostrando essenciais para reduzir custos e tempo na descoberta de fármacos. Modelos computacionais podem simular absorção, metabolismo e excreção de moléculas, sugerir rotas sintéticas mais sustentáveis e cruzar dados de diferentes centros de pesquisa e farmacovigilância. “O tempo que a IA leva para descartar moléculas prejudiciais/tóxicas, por exemplo, é muito menor se considerarmos as pesquisas “tradicionais”, o que permitirá priorizar moléculas para síntese, em detrimento de outras”, explica a professora. Estudantes são orientados a atuar em pesquisas de iniciação científica para uma formação capaz de aplicar recursos da tecnologia digital como IA e Big Data na prática farmacêutica (Crédito: DICom) Mesmo assim, Marise ressalta que, assim como em outros processos da indústria farmacêutica, é necessário validar e dar transparência aos resultados obtidos por IA a fim de trazer confiança e transparência para os resultados alcançados. Outros pontos que destaca é a busca pela “química verde”, que visa diminuir os impactos ambientais inerentes às pesquisas com novas substâncias químicas na descoberta de novos fármacos e a regulação que precisa acompanhar a agilidade das descobertas de novos produtos ou processos. O pesquisador André Pitondo da Silva publicou estudo sobre superbactérias resistentes fora do ambiente hospitalar, no “Journal of Global Antimicrobial Resistance” (Crédito: DICom Unaerp) OBSTÁCULOS Apesar de todos os avanços e possibilidades futuras, Stevanato reforça que existem desafios complexos e que acabam por envolver diferentes áreas, desde a técnica, até os setores logístico, financeiro e regulatório. Na microbiologia aplicada à saúde pública, por exemplo, é preciso enfrentar graves obstáculos, dentre eles, considerado o principal para a professora, temos a resistência microbiana resultante do mau uso de antimicrobianos ao longo das décadas. “O risco de ficarmos sem opções terapêuticas para tratar infecções provocadas por bactérias multirresistentes é real”, afirma Stevanato. Tal cenário se intensificou com a intensa mobilidade global que facilitou a disseminação de cepas multirresistentes de forma muito mais rápida. “Em tempo relativamente curto, uma pessoa sai do Japão e chega ao Brasil”. Desta forma, alerta que o desafio de contenção se torna mais complexo e passa a exigir a criação de medidas e programas de vigilância e infraestrutura de biossegurança com protocolos mais rigorosos, bem como uma vigilância integrada para detectar e conter surtos. “Precisamos descobrir novas moléculas com vistas a tratar esses tipos de microrganismos multirresistentes. Para isso, é necessário aporte financeiro, normas e protocolos rígidos de contenção e de biossegurança desses microrganismos.” A professora também destaca outro fator preocupante que extrapola os limites do setor de saúde, mas impacta diretamente: o aumento da desinformação e a resistência a aceitar intervenções baseadas em evidências científicas como as campanhas de vacinação para conter algumas doenças. “As notícias falsas veiculadas pelas redes sociais, para além das discussões éticas, tem impactado significativamente.” No Laboratório de Biofarmacotoxicologia do curso de Farmácia da Unaerp, estudantes se capacitam para um novo mercado de trabalho com intensa aplicação de tecnologias digitais (Crédito: DICom Unaerp)

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