Câmera corporal mostra PM atingindo motociclista com cano de fuzil; jovem morreu com perfuração

Caso de PM que matou homem com golpe de fuzil vai para Justiça comum A câmera corporal de um policial militar registrou o momento em que ele atinge o piloto d...

Câmera corporal mostra PM atingindo motociclista com cano de fuzil; jovem morreu com perfuração
Câmera corporal mostra PM atingindo motociclista com cano de fuzil; jovem morreu com perfuração (Foto: Reprodução)

Caso de PM que matou homem com golpe de fuzil vai para Justiça comum A câmera corporal de um policial militar registrou o momento em que ele atinge o piloto de uma moto com a ponta de seu fuzil. Ela perfurou o pescoço do motociclista, o matando em seguida (veja vídeo acima). O caso ocorreu em 25 de fevereiro de 2024 na Zona Norte de São Paulo. À época, a TV Globo e o g1 mostraram cenas de outra câmera, a de segurança de um imóvel que flagrou a abordagem do tenente Gabriel Montoro Dantas a Matheus de Menezes Simões, de 21 anos, durante a dispersão de um baile funk na Vila Brasilândia. As cenas também mostravam o momento em que o cano do fuzil atinge a vítima. Mas nesta sexta-feira (10) a equipe de reportagem teve acesso à filmagem da body cam (câmera corporal) do próprio agente da Polícia Militar (PM). São imagens de outro ângulo. Mostram o que ocorreu do ponto de vista do agente. Ele aparece desferindo o golpe com a arma que tirou a vida do motociclista. O fuzil não disparou, mas feriu a vítima, que teve hemorragia. Foi justamente em razão dessa nova imagem, a da câmera do uniforme do PM, que a Justiça Militar entendeu que o agente tem de responder pelo crime de homicídio doloso (com a intenção de matar). Por esse motivo, encaminhou neste mês de outubro o processo para a Justiça comum. Antes o caso era apurado como homicídio culposo (não intencional). O tenente Gabriel responde ao processo de homicídio em liberdade. Ele foi denunciado pelo Ministério Público (MP) pelo crime. A Justiça analisa a acusação para decidir se o torna réu. A equipe de reportagem tenta contato com a defesa do policial militar para comentar o assunto. Pescoço perfurado por fuzil Body cam de PM mostra ele abordando dupla em moto com cano de fuzil. Arma perfurou pescoço do motociclista, que morreu em 2024 em SP Reprodução Quando o PM abordou Matheus, ele pilotava a motocicleta levando um amigo na garupa. Ambos estavam sem capacetes, o que é ilegal, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O motociclista desobedeceu à ordem de parada da Polícia Militar perto da Rua Claudio Ghirelli. Mas mesmo assim a ação do tenente foi considerada irregular pelos padrões operacionais da corporação. Não se deve agredir ninguém, ainda mais usando uma arma de fogo. Apesar de depois da abordagem policial Matheus ter perdido o controle da moto e batido num carro estacionado, laudo do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica confirmou que ele morreu em decorrência de ter tido o pescoço perfurado por um "agente contundente". "Cuja causa mortis, baseando-se nos achados, ocorreu por hemorragia aguda em decorrência dos ferimentos recebidos", informa trecho do laudo do IML sobre o motociclista. Segundo o registro da Polícia Civil, foram encontrados "vestígios de sangue no quebra chama, possivelmente sangue do falecido". "Quebra chama" é a ponta do fuzil. O amigo de Matheus acabou fugindo após a queda da moto. A PM havia ido ao local atender um chamado de moradores que reclamavam do barulho. Body cam Câmera corporal de PM mostra momento em que ele atinge motociclista com a ponta do cano de fuzil Reprodução Na nova imagem da body cam do PM, é possível ver o momento em que o tenente Gabriel aparece correndo na direção da motocicleta, que estava em movimento. Mas o piloto não para, continua acelerando, e há um choque entre o veículo e o PM. O fuzil dele bate nos ocupantes da moto, que se desequilibra um pouco. Não há áudio nesse vídeo porque o policial teria desligado essa função do equipamento. Matheus, porém, consegue retomar o controle da motocicleta, que prossegue por mais alguns metros até cair com ele e o amigo perto de alguns carros. O garupa, que não foi identificado e fugiu. O piloto fica caído no chão, ferido, com uma perfuração no pescoço, agonizando. Nenhum deles estava armado. Num momento da gravação da câmera corporal, um morador acusa o tenente de ter jogado o fuzil em Matheus, mas o policial nega. Apesar de a polícia ter acionado uma ambulância para socorrê-lo, Matheus não resistiu e morreu no local. Ele estava com a habilitação provisória vencida. O jovem não tinha passagens criminais e trabalhava como entregador de encomendas por aplicativo e numa garagem de ônibus. 'Cara trabalhador', diz avô Imagens da câmera do uniforme de PM mostra momento em que motociclista foge e depois cai morto. Vítima teve pescoço perfurado por cano de fuzil do policial Reprodução A motocicleta, uma Honda CG 160 vermelha, estava regularizada. Ela estava no nome do avô e foi um presente a Matheus, para ele trabalhar como entregador. "Ele [PM] matou um cara trabalhador", chegou a dizer Manoel de Menezes sobre o neto em entrevista à TV Globo, no ano passado. "Não podia ter feito aquilo, não pode, gente, pelo amor de Deus. Tem que ter Justiça nesse negócio, esse cara [o PM] tem que pagar pelo que ele fez". "Primeiro eles matam para depois saber quem é. Eu quero justiça. Isso não foi uma abordagem certa, meu filho não perdeu sua vida em vão, gente", disse Valdirene Bispo de Menezes, mãe de Matheus. Homem morre após se chocar de moto com policial em SP Matheus de Menezes Simões e a moto vermelha que pilotava quando morreu após abordagem da PM em São Paulo Divulgação/Arquivo pessoal Matheus Simões pilotava sem capacete quando foi abordado pela PM Divulgação/Arquivo pessoal

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